domingo, 16 de dezembro de 2012

Nightly Rant


Tenho o costume de pensar em inglês quando o tema é me abala muito, espero que ninguém se importe. De qualquer maneira, coloquei a tradução logo depois do texto.

There is a very deep sorrow in understanding that the world does not care about you or your ideologies. That the world is, in a sense, unmovable. That no matter what you do, try to do or fail to do certain things will not change, not in your lifetime anyway. That the most you can expect is to be a martyr for your cause, and even then only if you are lucky enough to be remembered. It is a sad existence to always question the ways of the world, to see in every product, to see in every bill of whatever currency you happen to use the unfairness of a world where food is better wasted than given. It is difficult to understand how things ended up this way, it is difficult to understand why people accept it and do not seek change. In these wee hours of the morning I find that, most of all, it is difficult to understand how people can lead their lives without once questioning this, without once reflecting upon the colossal injustive that we have helped maintain. We, as a race, have grown cold, cruel and careless. Tonight, I suppose, I mourn for the humanity that is slowly being lost as the years go by, finding itself replaced by the capitalist automaton.

Tradução: O entendimento de que o mundo não se importa com você ou com suas ideologias trás uma profunda tristeza. Entender que o mundo é, de certa maneira, imóvel. Que não importa o que você faz, tenta fazer ou deixa de fazer certas coisas não irão mudar, não antes de você morrer de qualquer forma. Entender que o máximo que você pode esperar é se tornar um mártir, e isso apenas se tiver a sorte de ser lembrado. É uma existência triste ser um dos que sempre questionam as direções que nosso mundo tomou, ver em cada produto, em cada nota, de qualquer que seja o moeda que você usa, a injustiça de um mundo que prefere jogar fora comida do que dá-la a quem precisa. É difícil entender como as coisas acabaram se tornando assim, é difícil entender como as pessoas aceitam isso e não procuram mudança. Mas, nesta madrugada, acho que a coisa mais difícil de entender é como as pessoas conseguem viver sem se questionar sobre essas coisas, sem refletir sobre injustiça colossal que ajudam a manter. Nós, como uma raça, nos tornamos insensíveis, cruéis e negligentes. Suponho que, esta noite, estou em luto pela humanidade que é vagarosamente substituída por um autômato capitalista.

E ainda assim, mesmo com todos esse sentimentos e fatos, não podemos nos deixar cair no pessimismo. Nossa visão otimista de um futuro melhor, onde as pessoas são, verdadeiramente tratadas como iguais, onde o dinheiro e a mais valia são apenas contos para fazer que crianças entendam os males da ganância. Ainda assim precisamos nos manter fortes. Precisamos nos manter atentos. Ninguém mais o fará por nós.


Fraternalmente,
mascarasesabonetes

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

O Incrível Homem Zumbi - Parte I


"Até que se tornem conscientes, jamais se rebelarão. Até se rebelarem, jamais se tornarão conscientes." - 1984, George Orwell
Resumo: O processo de zumbificação aqui descrito depende de duas partes, a adequação aos valores do trabalho com foco no lucro e a submissão à lógica de consumo. Estas duas partes se unem para estabelecer o problema real, em minha opinião, da sociedade contemporânea, a falta de tempo, conhecimento e vontade para o pensamento crítico. Outro produto deste problema é o estranhamento gerado entre os sujeitos, de tal forma que as relações interpessoais entre indivíduos geograficamente próximos se tornam cada vez mais, na melhor das hipóteses, superficiais.
O que nos define como ser humano? Um par de polegares opositores? Um encéfalo altamente desenvolvido? Talvez, mas gosto de pensar que o nos separa de outras criaturas que dividem nosso mundo conosco é a nossa capacidade de pensar sobre o pensar, a capacidade de agir além do nosso benefício imediato e de, até mesmo, agir em benefício de um outro que nem ao menos conhecemos. Como exemplo, o apoio que a comunidade que perambula pela internet ofereceu e oferece para locais como a Síria, ou como foi o caso do Egito. Ou ainda a revolução ocorrida na Islândia, derrubando seu governo e prendendo os capitalistas selvagens responsáveis pela quebra total de sua economia. Esses pequenos eventos demonstram, para mim, o que é ser humano. Demonstram a consciência, o esforço e a coragem de criar um mundo melhor não apenas para nós mesmos, mas também para todos aqueles que convivem conosco em nosso pequeno pontinho azul que flutua na escuridão infindável do universo.
Sabemos que a orientação religiosa ou não religiosa não influência de forma significativa a construção de valores morais e comportamentos éticos. Podemos, portanto, pressupor que a crença pessoal em relação ao que há após a morte é irrelevante na definição de valores básicos para a construção e manutenção de uma sociedade pacífica. Tendo isso em mente, devemos então questionar quais são estes valores fundamentais que erguem a sociedade contemporânea. O modelo capitalista nos impõem uma grande quantidade de valores inescapáveis para que se possa sobreviver de forma confortável  no mundo. Valores como o trabalho, o esforço, a dedicação, o profissionalismo, a manutenção do tempo, o estudo, a submissão, o não questionamento, a aceitação da opinião majoritária, o respeito aos que se encontram acima de nós na hierarquia e o consumismo, para citar alguns exemplos.
Para que servem esses valores? A quem servem estes valores? De uma maneira tosca, a produção e propagação destes valores tem a função clara de manter o sistema capitalista em funcionamento. Praticamente todos os valores exaltados pela educação capitalista liberal giram em torno do trabalho em si e atitudes desejáveis para que haja produção satisfatória. Até a valorização da educação contínua ao longo da vida é fundamentalmente distorcida ao ser direcionada simplesmente para o aumento da eficácia no mercado de trabalho. Acima de tudo, estes valores servem para criar uma prisão imaginária em torno do sujeito, transformando seus vizinhos, parentes e amigos em policiais carcerários que trabalham de bom grado sem o menor custo.
O sujeito contemporâneo é atado pelos grilhões de dois grandes imperativos do capitalismo liberal, são eles o trabalho e o consumismo. Todas as outras coisas que zumbificam os sujeitos giram em torno destes dois grandes pesos. Façamos uma diferenciação: O trabalho, como forma de manutenção de uma comunidade, pautado ou em objetivos práticos (como alimentação, manutenção da higiene, construção, saúde, desenvolvimento de tecnologias e etc) ou em objetivos "puros" (como física, matemática, química, biologia, sociologia, antropologia e o que for com o objetivo de desenvolvimento teórico) é indispensável para qualquer sociedade que vise tanto o bem de seus cidadãos quanto a progressão de sua capacidade de sustentar, de forma ecologicamente correta, sua população.
O trabalho que aqui é tratado como um peso que impede o ser humano de atingir sua plenitude é o trabalho pautado na mais-valia, um trabalho sem objetivos observáveis que gerem benefícios para a comunidade. Possui seus  alicerces ou na manutenção de um sistema cujo cidadão comum nem ao menos compreende, ou em serviços burocráticos que servem mais para manter as pessoas ocupadas e fornecer trabalhos do que qualquer outra coisa. Esta forma de trabalho ignora o ser humano enquanto sujeito para além do que lhe convém para o aumento do lucro, é uma forma de trabalho, muitas vezes, intelectualmente degradante, rotineira e, verdadeiramente, zumbificante. A ironia deste sistema cíclico foi comentada magistralmente nas imortais palavras de Tyler Durden em Clube da Luta: Nós trabalhamos em empregos que odiamos, para comprar porcarias que não precisamos.
Entramos então no segundo grilhão que impede o sujeito de avançar como ser humano, a lógica consumista. O consumismo é, sem a menor sombra de dúvida, o câncer da sociedade contemporânea. A lógica de consumo impede que todos tenham o mínimo, ela mantém alguns na miséria para fazer valer o status de obter bens caros, coisas que, se todos tivessem, não possuiriam o menor valor. Como exemplo, o que é o diamante? Carbono condensado, uma pedra de aparência vítrea e estética agradável, apenas isso. O que o torna tão invejável não é sua beleza, não é só sua raridade (raridade mantida intencionalmente, segundo algumas teorias de conspiração), o que torna o diamante belo é o fato de que pouquíssimas pessoas podem possuí-lo. É uma lógica cruel, onde se tira satisfação, a "felicidade de consumir", diretamente da desigualdade e não da utilidade real ou simples beleza do objeto.
E o que isso tem haver com se tornar um zumbi? É um salto de lógico bastante pequeno, na verdade, e se desenvolve, principalmente, a partir da relação cíclica entre trabalho e consumo. A lógica de trabalho nos mantém submissos, presos a nossos chefes ou responsabilidades exacerbadas  Nossa família e nossos amigos nos criticam quando nos sentimos mal com nosso trabalho, quando não queremos entrar nesse ciclo vicioso, agem como agentes carcerários. Acredito que a melhor expressão para descrever a situação do sujeito comum com o trabalho seja a de refém,  incluindo-se nessa relação uma boa dose de síndrome de Estocolmo.
Comentamos anteriormente sobre o tempo que o trabalho ocupa, mas vou mais além, o trabalho ocupa um tempo percebido que não pode ser medido em horas. Ao criar uma rotina longa e entediante, ao retirar do dia a dia do sujeito qualquer forma de inovação, de pensamento e atitude criativa, o trabalho, por via do hábito, torna nossa vida mais curta em nossa percepção. Existem estudos em cima deste tipo de relação, mas não precisamos ir além daquela sensação de sexta a feira a noite de que nada de interessante ocorreu durante a semana, aquela sensação no final do ano que o ano não durou nada. Nos espantamos ao ver que anos passaram desde que saímos do ensino médio, da faculdade e lembramos de como o tempo parecia passar mais devagar naquela época e foi, progressivamente, acelerando conforme fomos envelhecendo. Essa é a verdadeira percepção de uma vida jogada em segunda plano em prol da manutenção de um lucro que nem ao menos encontrará o caminho para o seu bolso.
O consumismo serve para a segunda etapa do desenvolvimento desta rotina zumbificante, afinal de contas, o mundo capitalista precisa encontrar um meio de desenvolver uma rotina que ocupe todo o seu dia todos os dias, que não disponibilize tempo para pensar, seja por cansaço, seja por pressões sociais de ordem consumista. Sentar e conversar sobre política, sobre filosofia, sobre a situação do mundo e sobre os problemas ambientais é, para grande parte das pessoas, um plano chato. Se vamos conversar sobre algo deveríamos conversar sobre carros, mulheres, homens, o que fulan@ ou siclan@ fez semana passada, ontem, hoje, não? Deveríamos conversar sobre o que esta na moda, sobre computadores novos, sobre futebol, basquete, vólei, olimpíadas  copa mundial, sobre a vida dos famosos e sobre a novela, não? A filosofia consumista não se limita ao gasto de dinheiro, o gasto de dinheiro é mais um resultado que um objetivo, na minha opinião.
Ser politizado se tornou uma espécie de tabu, degradou-se em coisa de gente chata. Alias, pensar sobre qualquer coisa com mais significado que a festa do final de semana passado ou nas intrigas dos relacionamentos amorosos da sua vida é visto com um certo ar de estranheza, como algo interessante de se escutar vez ou outra talvez, mas não algo para se levar para a vida. Não entrarei no argumento de que a pessoa padrão emburrece com o passar do tempo, argumento que todas as gerações desenvolvem com relação as próximas gerações, mas definitivamente as gerações contemporâneas tem menos tempo para pensar do que seus antepassados. O tempo dedicado ao ócio, aos momentos de desenvolvimento de projetos pessoais e de pensar sobre a própria vida, tem diminuindo consideravelmente de geração para geração. Esta diminuição do tempo disponível para pensar criticamente é muito conveniente para a manutenção do sistema de escravidão voluntária que nós chamamos de capitalismo.
Nas palavras de um grande amigo meu, o sistema é bruto. Essa brutalidade nos destrói enquanto humanos nos alimentando da ilusão de que este processo de decadência é, na verdade, uma forma de se individualizar, de se tornar único. Não se deixe decair, não se deixe brutalizar, ao menos não sem entender o processo que te degenera.

Fraternalmente,
mascarasesabonetes

sábado, 20 de outubro de 2012

Carioca Leaving

É um absurdo o que o poder do mercado pode fazer com nossas vidas. Ele dita as regras e não há santo que possa impedir. Talvez o Governo? Pfff... Doce ilusão! O Governo é a puta mais luxuosa que está à disposição do Mercado, mas que flerta com você quando precisa, por mais que você não possa pagar pelo "serviço completo".

É revoltante assistir diariamente essa pornografia explícita que ocorre entre Governo e Mercado, bem debaixo de nossos respectivos narizes, e saber que "não podemos fazer nada". Mas uma de nossas armas é a conscientização. É o desenvolvimento de um raciocínio crítico!

"Nenhuma revolução social pode triunfar se não for precedida de uma revolução nas mentes e corações do povo."
-Piotr Kropotkin

Façamos essa conscientização virar um vírus incontrolável! Pois nesse mundo onde o inimigo é uma entidade abstrata, só a desconstrução social do mesmo pode derrotá-lo! Sem mais delongas, assista esse vídeo e comece a municiar a nossa arma mais poderosa: A sua mente!


Fraternalmente,
Mascaras & Sabonetes.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

O que é Anarquia?


"Nós, anarquistas revolucionários, somos inimigos de toda e qualquer forma de Estado. Todos os governos são, por sua própria natureza, externos à grande massa e, portanto, procuram, necessariamente, sujeitá-la a costumes e propósitos completa [ou parcialmente] estranhos a ela. Nós nos declaramos [por estes e outros motivos] inimigos do Estado em todas as suas formas. Acreditamos que a humanidade possa atingir a felicidade e liberdade apenas quando organizada de baixo para cima, sem supervisão ou quaisquer guardiães, criando assim sua própria vida." (Bakunin)

A anarquia (ou o anarquismo), longe da imagem preconceituosa que comumente circula quando o assunto é levantado, é um sistema de organização social baseado na liberdade dos sujeitos, limitada pelo respeito aos demais seres humanos e, em uma veia mais recente nascida dos problemas ecológicos que encontramos na contemporaneidade, pelo respeito ao nosso ambiente e os demais seres vivos que nele habitam. Anarquismo está longe de ser o caos generalizado e a violência sem escrúpulos que costuma aparecer quando o assunto é tratado. Denominamos esta forma de anarquia, juntamente com atitudes como pixar por pixar, quebrar material público sem motivo e o que mais puderem pensar, de anarquia de parquinho. O menino raivoso que chuta o castelinho de areia do amiguinho.

A desobediência civil é, e sempre será, uma ferramenta importante para que ocorra qualquer forma significativa de revolução, já que é difícil conceber mudanças geradas através do uso das ferramentas do próprio sistema. Não que gerar mudanças desta maneira seja impossível, simplesmente requer uma maestria do sistema e de suas entranhas que pouquíssimas pessoas no mundo terão em qualquer dado momento.

Anarquia não é simples de se atingir. Mudar a mentalidade da população mundial para que o sentimento de respeito ao próximo seja forte o suficiente para sustentar uma sociedade sem entidades Estatais beira o utópico. Mas se conseguimos adestrar bilhões de pessoas a não interagir até mesmo quando amontoados com tantos outros a menos de um braço estendido de distância, bem, acredito que outras mudanças menos danosas e absurdas sejam possíveis. A mudança, contudo, apenas se inicia na mudança da forma de pensar. Abandonar a lógica do lucro e do dinheiro também é essencial para a formação de uma sociedade anarquista, assim como a reestruturação dos próprios centros de convivência, reestruturação idealizada de forma magistral por uma iniciativa chamada "Projeto Vênus" (Project Venus).

Pensando menos no objetivo final e mais no caminho, o que é viver o espírito anarquista? Opiniões diferentes surgiram, com certeza, e não poderia ser diferente, a filosofia anarquista se baseia no respeito e na ausência de entidades controladoras, estipular definições exatas sobre o que é ser anarquista (além de um básico orientado para a reprodutividade da ideia) seria paradoxal. Nós, aqui do mascarasesabonetes, acreditamos que viver o espírito anarquista seja pensar por si próprio, analisar cuidadosamente as relações do dia a dia com senso crítico. Acreditamos que seja pensar sobre alternativas de mundo e procurar dar passos, por menores que sejam, para estimular este criticismo e estes pensamentos em nossos amigos, familiares e talvez mais importantes ainda, nos estranhos que encontramos ao longo da vida. Viver o espírito anarquista é desenvolver, espalhar e dar terra fértil às ideias que visam a libertação e a felicidade dos sujeitos, que visam um afastamento de insatisfação permanente que a sociedade capitalista nos impõem.

Viver o espírito anarquista é viver.

Fraternalmente,

mascarasesabonetes

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Quem me dera ser um peixe...



Prezado leitor,

Essa foto acima demonstra como certos símbolos da organização popular também entram na maquina capitalista e tornam-se pressuposto para o lucro.
Vemos a como a metáfora do cardume é usada para site de compras, e não para uma organização social que  prende uma transformação. Não vou falar o nome do site por motivos óbvios, não queremos fazer a propaganda dele. O que queremos é demonstrar que se nos organizamos para sustentar esse mesmo sistema cínico e cruel através de compras , porque não nos organizamos para transforma-lo ?
Traço um fio condutor entre essa imagem e o filme “V de Vingança” na seguinte frase: “O povo não deveria ter medo do seu governo, e sim, o governo deveria ter medo do seu povo”.
Precisamos buscar um objetivo em comum enquanto seres-vivos e parte de um mesmo planeta. É necessário com certa urgência sairmos da zona de conforto e irmos atrás do que realmente queremos. Não acho justo sermos tão negligentes com a realidade social que nos margeia.  Só porque somos muitas das vezes privilegiados, não é correto fecharmos os olhos para a injustiça com a vida. Seja qual forma de vida e espécie que estamos falando.

Com a sinceridade e a pretensão de pessoas inconformadas: Pense, organize-se e mude. (Nem que a mudança aconteça no seu microcosmo)
Fraternalmente,
mascarasesabonetes
(Sintam-se livres para sugerir fotos como essa, tanto para o debate quanto para utilizarmos como panfletos ou coisas do tipo.)

O que é Riqueza?



“O que é propriedade e capital em sua encarnação moderna? Significam o poder e o direito garantido pelo Estado de viver sem trabalhar. Já que nem propriedade e nem capital produzem algo sem serem anteriormente fertilizados pelo trabalho - significa o poder e direito, garantido pelo Estado, de viver em cima da exploração do trabalho de outro.” - Bakunin, 1926 (traduzido por Maximoff para o inglês).

"O dinheiro não é apenas um dos objetos da paixão de enriquecer, mas é o próprio objeto dela. Essa paixão é essencialmente auri sacra fames (a maldita ganância do ouro), faz com que as pessoas vivam em torno de uma medíocre vida, ocasionada por necessidades impostas, gerando uma rotina alienada." - Frase atribuída a Marx.
A riqueza, em sua encarnação pós-moderna (ou qual seja o nome de nossa época), mudou muito pouco. A diferença principal é que uma menor parte da população pode ser considerada genuinamente rica e uma parte maior que pode ser considerada proletariado (se é que podemos falar ainda nos termos de Marx de proletariado de capitalista). Hoje predomina a luta intraclasse, ou seja, trabalhador contra trabalhador, pobre contra pobre, classe alta contra classe alta. É uma guerra por bens, por espaços, por nome no mercado. É de fato, uma luta que só pode beneficiar uma única classe, nossos mestres invisíveis (Ooooo!). Descendentes espirituais dos Capitalistas de outra época.
Os sujeitos verdadeiramente ricos hoje em dia são tão poucos e tão ricos que se torna quase que impossível tomar ação direta contra eles. Estes poucos homens e mulheres são por natureza internacionais, sem nenhum “centro de poder” que possamos atingir. São poucos, mas possuem uma rede de influência invejável, tendo o dedo, muitas vezes, em áreas inteiras do mercado internacional, ditando suas regras e estabelecendo suas leis. Em última instância é para eles que trabalhamos. É para eles que vendemos nossas vidas, nossas mentes e nosso bem estar.
Quando não os indivíduos estupidamente ricos em si, são suas grandes indústrias. Essas indústrias também se tornam cada vez menor em número, e observamos de forma mais e mais frequente os mesmos indivíduos sentados nas mesas de reunião de grandes multinacionais diferentes. Quando alguém morre de fome porque a comida é muito cara ou porque mercados preferem jogar comida fora a dar para quem precisa, são estes grandes nomes que merecem culpa. São responsáveis simplesmente por terem papel fundamental na própria lógica do sistema que vivemos atualmente, que se constrói na escassez. A escassez é o que maximiza o lucro. Se houvesse muita oferta no mercado os preços iriam abaixar. Para o preço não baixar vale a pena queimar o recurso com a intenção de não termos muita oferta, como exemplo temos aquela situação na época do café (http://www.youtube.com/watch?v=m4tY40SzK2U). Temos notícias de plantações inteiras sendo queimadas só para que o cafeicultores continuassem lucrando valores elevados.
Com certeza esses produtos fariam a diferença nas prateleiras de muitas pessoas e, honestamente, consideramos no mínimo desumano e condenável esse tipo de prática. Isso não é teoria da conspiração, é lógica capitalista em prática.
Paralelamente, quando alguém morre de uma doença porque não tem dinheiro para medicamento, mesmo quando produzir o medicamente é barato, é neles que a culpa deve recair. Quando nossa qualidade de vida é ameaçada pela emissão de gases nocivos, mesmo quando existem alternativas muito mais limpas, mas menos baratas, sabemos que são eles que verdadeiramente ameaçam nossa vida e tudo isso por lucro, dígitos em uma telinha.
Mas, se sabemos disso, o que nos impede de atacá-los, de nos manifestar contra estes homens e mulheres que só pensam em números em telinhas. Honestamente, acredito que atacá-los diretamente seja impossível. Quem esta no poder hoje é herdeiro de uma genialidade política impressionante, quem domina o mercado hoje domina, em tese, as ideias que circulam, de uma forma geral. Fomentam a luta entre membros da mesma classe social, assim como a alienação da população em relação a, bem, tudo que não seja lucrativo. É ai que a luta da pós-modernidade se encontra, é a luta das ideias, a luta dos conceitos, a luta da formação de intelectos e de opiniões e, acima de tudo, a luta pela manutenção de um senso crítico que é cada vez mais raro.
Guerrear contra estas indústrias é impossível. Contudo destruir suas bases de poder, destruir a reverência ao dinheiro que nos foi ensinada, destruir o respeito incondicional ao proprietário de grandes riquezas, lutar contra a dominação intelectual destes homens e mulheres, assassinos e ladrões, isso sim é possível. E na guerra de ideias e ideologias nós temos a vantagem, nós somos muitos, eles são poucos e uma mente crítica, aberta, é como palha seca para o fogo que pessoas, que como nós, querem ver o mundo pegar fogo (metaforicamente).
Fraternalmente,
mascarasesabonetes

Informe-se: Fontes


Notícias e Ideias:
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(Sintam-se livres para sugerir novas fontes.)

Nós Somos os Mortos



"Nós somos os mortos. Nossa única vida genuína repousa no futuro." - Winston (George Orwell, obra 1984).

“Nós somos os mortos” - frase utilizada com certa frequência no material que tenho tido contato com ultimamente. Nas duas instâncias essa frase é utilizada como um reflexo às escolhas feitas pelos personagens, assumindo um caráter, de certa forma, político em ambos os casos.
Ouvi a frase pela primeira vez na música “Sons of Fate” da banda Protomen. Neste caso ela é utilizada pelas massas que haviam se reunido para ver a luta mortal entre os dois irmão (Megaman e Protoman). Ao ganhar, Megaman percebe o desejo de sangue das pessoas da cidade e percebe, também, que elas jamais irão lutar contra o regime do ditador Wily. Iluminado por esta percepção, Megaman dá as costas e vai embora, virando apenas uma última vez para olhar para o público quando este começa, ao ser chacinado pelo exército robótico, a cantar em uníssono: “We are the dead” - “Nós somos os mortos.”
Coincidentemente, entrei em contato novamente com esta frase ao ler a obra 1984 de George Orwell (um ótimo livro, por sinal, se um tanto deprimente). Nesta obra, o personagem principal, Winston, usa esta frase ao pensar sobre sua vida e a de sua amante, mas a frase pode ser ampliada para todos os habitantes do mundo descrito pelo livro. Winston chega à conclusão de que já esta morto quando pensa na sua situação de rebelde perante ao regime cruel e totalitário do “Partido”, comentando que “Nossa única vida genuína repousa no futuro”. O futuro a que ele se refere é um futuro que nunca verá, coisa de gerações após a sua. Um “insight” importante, até porque uma ação de mudança social significativa provavelmente só terá efeito muitos anos depois, provavelmente não estaremos aqui para ver.
A diferença principal entre as duas utilizações, a nosso ver, é o que a frase significa para o futuro que ultrapassa os respectivos personagens. No primeiro caso é a fatalidade, o sentimento de total impotência perante a situação em que se encontram. Uma sensação comum em pessoas como nós e que imagino ser maior ainda naqueles que, apesar de pensarem sobre o estado do mundo, se submetem ao “sistema” sem maiores resistências. Mesmo diante do herói que vem para salvá-los, o “povo” é incapaz de agir, não passando de observadores de suas próprias vidas.
No segundo caso, é o esclarecimento. A percepção de que o mundo não mudará da noite para o dia e de que todos os que lutam para esta mudança são, na melhor das hipóteses, mártires e sacrifícios para gerações futuras. Esta sempre foi uma verdade da luta pela mudança, gerações e gerações de pequenas mudanças e nomes que nunca foram ou serão documentados na história antes de uma mudança repentina, onde todos são heróis.
Felizmente, o mundo mudou e, hoje em dia, grupos relativamente pequenos possuem a capacidade de efetuar mudanças significativas. A mídia informal permitiu a grande circulação de informações que seriam, anteriormente, impedidas de circular, sendo acobertadas ou distorcidas pela mídia tradicional (jornais, televisão, rádio e etc). Contudo, mesmo com essas mudanças, as mudanças em grande escala continuam sendo muito difíceis de ocorrer. Cabe a nós, que tem o privilégio de pensar e discutir esses temas, disseminar essas ideias e oferecer as ferramentas para a mudança das futuras gerações. Cabe a nós, em suma, decidir que tipo de “Mortos” nós somos.
Fraternalmente,
mascarasesabonetes

O Tempo na Sociedade Capitalista


É interessante analisar o sonho que nos é vendido pela cultura capitalista com toda a sua força de difusão e com alcance que atinge tanto os mais jovens quanto aqueles que teoricamente já cumpriram com seu papel social e estão aposentados mas que repassam e reforçam esse pensamento. Esse sonho liberal de que a oportunidade esta ai e que basta o nosso esforço para alcança-la é incentivado pela mídia a todo tempo. Essa ideia nos é empurrada goela abaixo e, portanto, nos sentimos na obrigação de correr atrás do nosso futuro sem parada para respirar. Estudamos, e como estudamos. Estudamos sem parar, mesmo que muitas vezes os conteúdos sejam inúteis.
Dizem os “capitalistas” que teremos maiores chances na fila de acesso ao mercado de trabalho após essa moratória exaustiva que é a escola,paralelamente, o pensamento liberal nos faz crer que se não obtivermos essa inserção e morrermos de fome em algum canto escuro da cidade. Bem, a responsabilidade é nossa e a culpa terceirizada, nunca do próprio sistema. A oportunidade nos foi dada e não soubemos agarra-la, é o argumento mais comum, junto com “é pobre porque não quer trabalhar.Não se fala, entretanto, sobre a situação precária da educação pública e sua influência na polarização do contraste econômico. É raro ouvir também que existe qualquer parcela de culpa dessa educação aleijada na distribuição equitativa de oportunidades de emprego e renda. Factualmente, aprendemos poucas coisas no ensino fundamental e médio que possam vir a ser úteis ao longo da vida e que nos ajudaria, caso necessário, a permanecermos vivos no sistema capitalista caso tudo não ocorra como em um filme de cinema.
Vale a pena deixar aqui registrado a inversão que estamos vivenciando em nosso sistema educacional já há algum tempo; É sabido que no Brasil a educação pública tem uma qualidade duvidosa, e em contrapartida, as escolas particulares dão um preparo melhor a seus alunos nos conhecimentos necessários para a realização do vestibular e, portanto, no ingresso à universidade pública. Essa universidade deveria atender àqueles que não têm o poder financeiro para pagar uma faculdade particular, mas não é isso que acontece. Para não falar muito, aquele que não tem uma condição financeira muito boa, terá um ensino pior, certo? Esse ensino inferior muitas vezes, inviabilizará a entrada no ensino superior gratuito. Ou seja, a alternativa de uma formação superior para os que não tiveram dinheiro para arcar com a educação particular antes, é pagar o superior particular depois. Já os favorecidos financeiramente que tem o dinheiro necessário para pagar as faculdades particulares, estarão nas públicas. Irônico não?
(Sim, há cotas. Não, elas não resolvem o problema se funcionarem como um a muleta em vez de como parte de um processo.)
Voltando ao rumo da conversa, dizem-nos que quem estuda mais conseguirá um trabalho melhor e quanto mais nos dedicarmos à nossa preparação melhor serão os resultados. Torna-se necessário então estudar com muita dedicação e sacrifício. Se conseguirmos realizar as etapas anteriores e se acumularmos o capital que nos é oferecido em troca de nosso suor físico e intelectual teremos uma vida boa. Acreditamos nisso!Obedecemos com tanto ímpeto que ficamos presos ao ciclo de acordar, se arrumar, trabalhar, assistir TV e dormir. E para que? Termos uma vida boa em troca da submissão e da perda de uma boa parte da nossa vida?
Façamos as contas: Uma pessoa inserida no contexto capitalista trabalha no mínimo 8 horas por dia, 9 se incluirmos o horário de almoço (Ignoremos, por hora, a validade ou significância deste trabalho, muitas vezes inútil ou puramente burocrático, sem nenhum significado real para o funcionário, e, nula contribuição social). Basicamente, colocamos nossos sonhos em espera por causa dessas 9 horas diárias que nos darão um salário miserável perto do que de fato trabalhamos. Não acaba aí.
Vamos supor que tenhamos o recurso financeiro necessário para vivermos na cidade em que trabalhamos e não em algum ponto muito distante do trabalho, suporemos de forma otimista que essa cidade em que vivemos tem um transporte público de qualidade e pouco engarrafamento. Podemos tranquilamente adicionar 1 hora/dia que passamos nos deslocando para o trabalho. Já se foram 10 horas do nosso dia só no que diz respeito ao trabalho, e nem estamos considerando a péssima qualidade do tempo que passamos, muitas vezes, fora do trabalho, devido ao estresse, ao cansaço ou a preocupação com nossas responsabilidades profissionais.
Imaginemos agora em um contexto fantasioso, que a maioria das pessoas nessa situação não tem o poder aquisitivo de viver de tele-entrega e, como tem se tornado cada vez mais frequente, mora sozinha. Essa pessoa gastará mais 1 hora/dia preparando e satisfazendo suas necessidades de alimentação. Somaremos a conta 1 hora/dia vendo TV, ou seja, uma hora desperdiçada da sua vida frente à infinidade de propagandas e programas direcionados a fazê-la acreditar que precisa de mais do que já tem.
*Gastamos até então 12 horas do nosso dia.
Vamos pensar que este sujeito hipotético é sortudo e consegue ter mais ou menos 8 horas de sono por dia. Digamos também que a pessoa em questão é relativamente veloz em suas preparações e processos de higiene gastando somente 1 hora/dia entre tomar banho, escovar o dente e se arrumar.
*Total: 21 horas/dia; 21 horas por dia; 105 horas por semana; 420 horas por mês e em torno de 5040 horas por ano.
Ao pensar que temos por volta de 8064 horas em um ano, chegamos à conclusão que mais de metade da nossa vida é gasta com outras coisas que não nossa família, nossa comunidade, nossos amigos e nossos sonhos. Condicionalmente, para cada 40 anos de nossa vida trabalhando e com essa rotina supracitada gastamos mais de 20 anos sem viver para nós mesmos. Nessa conta acima, só foi processado o tempo de trabalho e necessidades básicas, não foi considerado todos os anos no ensino fundamental e médio que passamos aprendendo pouca coisa útil. E mesmo considerando apenas o trabalho e coisas a ele relacionadas teremos ai em torno de 16 anos de nossa vida, muitas vezes, desperdiçado.
Trazendo o hipotético para a vida real, quantos são os que não se encaixam nesse perfil acima citado? Certamente poucos.
Esses números traduzem as frases mais comuns e frequentes nos leitos de morte: “Queria ter trabalhado menos”; “Queria ter passado mais tempo com minha família e amigos.”. É isso que vocês, irmãos e irmãs que nos leem, gostariam que fossem suas últimas palavras? A nossa luta é para que essa realidade se altere para todos, e nosso desejo mais profundo é que vocês façam parte dessa luta também. Afinal, são as nossas vidas em jogo.
Fraternalmente,
mascarasesabonetes

Disclaimer: Não advogamos aqui a total extinção do trabalho, existem trabalhos que são necessários para a manutenção de uma comunidade, mesmo de uma comunidade anarquista. Mas a distribuição justa destes trabalhos e a ausência de uma lógica capitalista de mais-valia, de exploração das massas por poucos, pode reduzir este tempo perdido talvez até pela metade (ou até mais). E mesmo que não, não nos sentiríamos mais afogados em nossa solidão e insignificância, nosso trabalho poderia ter sentido e aplicabilidade real para o bem das nossas famílias, amigos e vizinhos. Poderíamos ver sentido no nosso esforço e beleza nas nossas produções não mais pautadas por uma demanda do grupo soberano, mas pelo bem comum.
Não veríamos mais tratados internacionais de redução de poluição sendo negados por um ou outro país achar que precisa de mais dinheiro, números em um banco de dados. Vendemos o nosso mundo, nossa saúde e nosso tempo. Vendemos outros seres humanos, nossos irmãos e irmãs, por o quê? Um bolo de papel? Números em uma tela? Será que somos os únicos que vemos o quanto isso é absurdo?
Enfim, entraremos mais a fundo nesta questão em outros posts.